Lépida e leve
Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha…
[…]
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à ideia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!…
MACHADO, G. In: MORICONI, I. (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).
O eu lírico busca, a partir da palavra polissêmica “língua”, uma extensão significativa podendo ser “língua-lama”, “língua-resplendor”, além do fato de fazer referência à língua como órgão e à língua como código linguístico. A poesia de Gilka é essencialmente feminina, pois sua lírica explora os anseios femininos por meio dos adjetivos “lépida” e “velosa”.