Assentado, portanto, que a Escritura, em muitas passagens, não apenas admite, mas necessita de exposições diferentes do significado aparente das palavras, parece-me que, nas discussões naturais, deveria ser deixada em último lugar.
GALILEI, G. Carta a Dom Benedetto Castelli. In: Ciência e fé: cartas de Galileu sobre o acordo do sistema copernicano com a Bíblia. São Paulo: Unesp, 2009 (adaptado).
Diferente do que muitas vezes se pensa, Galileu não era ele próprio um homem hostil à religião. Ao contrário, como se nota nesta carta escrita trinta anos de seus problemas com a Inquisição, o filósofo italiano tinha a Bíblia em boa conta. Considerava, entretanto, que ela não deve servir como referência para a investigação da natureza, uma vez que isto é questão de razão, não de fé. Assim, dizia ele, quando uma descoberta científica certeira entrar em conflito com o significado literal de um trecho da Escritura, que se proponha uma interpretação mais simbólica e mística do referido trecho.