Questão 114 da prova cinza do segundo dia do Enem 2012 Segunda Aplicação

Cegueira

Afastou-me da escola, atrasou-me, enquanto os filhos de seu José Galvão se internavam em grandes volumes coloridos, a doença de olhos que me perseguia na meninice. Torturava-me semanas e semanas, eu vivia na treva, o rosto oculto num pano escuro, tropeçando nos móveis, guiando-me às apalpadelas, ao longo das paredes. As pálpebras inflamadas colavam-se. Para descerrá-las, eu ficava tempo sem fim mergulhando a cara na bacia de água, lavando-me vagarosamente, pois o contato dos dedos era doloroso em excesso. Finda a operação extensa, o espelho da sala de visitas mostrava-me dois bugalhos sangrentos, que se molhavam depressa e queriam esconder-se. Os objetos surgiam empastados e brumosos. Voltava a abrigar-me sob o pano escuro, mas isto não atenuava o padecimento. Qualquer luz me deslumbrava, feria-me como pontas de agulha […].
Sem dúvida o meu espectro era desagradável, inspirava repugnância. E a gente da casa se impacientava. Minha mãe tinha a franqueza de manifestar-me viva antipatia. Dava-me dois apelidos: bezerro-encourado e cabra-cega.

RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1984 (fragmento).

O impacto da doença, na infância, revela-se no texto memorialista de Graciliano Ramos através de uma atitude marcada por

  1. uma tentativa de esquecer os efeitos da doença.
  2. preservar a sua condição de vítima da negligência materna.
  3. apontar a precariedade do tratamento médico no sertão.
  4. registrar a falta de solidariedade dos amigos e familiares.
  5. recompor, em minúcias e sem autopiedade, a sensação da dor.

Gabarito da questão

Opção E

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Comentário da questão

No texto de Graciliano Ramos, o narrador-personagem relembra com minuciosidade as sensações vivenciadas devido a perda da visão na infância, descrevendo algumas memórias e como as pessoas ao seu redor o tratavam com descaso e repulsa.

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