Pote Cru é meu pastor. Ele me guiará.
Ele está comprometido de monge.
De tarde deambula no azedal entre torsos de
cachorro, trampas, trapos, panos de regra, couros,
de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas
albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,
linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em
gotas de orvalho etc. etc.
Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento
Foi encontrado em osso.
Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.
BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro: Record, 2002.
O poeta Manoel de Barros, ao fazer intertextualidade com a passagem da bíblia “O Senhor é meu pastor…”, faz uma comparação entre Deus e o “Pote Cru”. Dessa forma, ele mostra a sua identificação com um pote cru, algo que é insignificante, assim como as coisas da vida.