Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes,
a vida presente
ANDRADE, C. D. Sentimento do mundo. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.
O poeta se nega a ser alienado e diz que “O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.” dessa forma, fica claro o compromisso com a realidade social e o interesse por transformá-la em assunto, matéria poética.