Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele Povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro Deus,
que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.
DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006.
Ao tratar da relação do governo com o povo, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por crítica velada à forma de governo vigente, pois mostra que o governador da Bahia, ou, o “Deus da Bahia”, tratava os brasileiros com tirania, da mesma forma que o Faraó tratava os gregos – por isso foi chamado de “Faraó do povo brasileiro” na última estrofe.