O povo que exerce o poder não é sempre o mesmo povo sobre quem o poder é exercido, e o falado self-government [autogoverno] não é o governo de cada qual por si mesmo, mas o de cada qual por todo o resto. Ademais, a vontade do povo significa praticamente a vontade da mais numerosa e ativa parte do povo — a maioria, ou aqueles que logram êxito em se fazerem aceitar como a maioria.
MILL, J. S. Sobre a liberdade. Petrópolis: Vozes, 1991 (adaptado).
A origem da preocupação enunciada no texto acerca da participação popular no poder nos remete à consolidação da democracia representativa. Não se trata aqui, no texto selecionado de Stuart Mill, de uma discussão que tenha origem na conquista do sufrágio universal, nem na institucionalização do voto feminino. A decadência das monarquias hereditárias e a criação do regime parlamentarista também não são o pano de fundo da discussão de Mill, mas sim a consolidação da democracia representativa que, diferentemente da democracia direta, se fundamenta na ideia de que representantes eleitos pelo povo estão legitimados a representá-los por um certo tempo.