Questão 14 da prova rosa do primeiro dia do Enem 2017 Segunda Aplicação

Um conto de palavras que valessem mais por sua modulação que por seu significado. Um conto abstrato e concreto como uma composição tocada por um grupo instrumental; límpido e obscuro, espiral azul num campo de narcisos defronte a uma torre a descortinar um lago assombrado em que o atirar uma pedra espraia a água em lentos círculos sob os quais nada um peixe turvo que é visto por ninguém e no entanto existe como algas do oceano. Um conto-rastro de uma lesma também evento do universo qual a luz de um quasar a bilhões de anos-luz; um conto em que os vocábulos são como notas indeterminadas numa pauta; que é como bater suave e espaçado de um sino propagando-se nos corredores de um mosteiro […]. Um conto noturno com a fulguração de um sonho que, quanto mais se quer, mais se perde; é preciso resistir à tentação das proparoxítonas e do sentido, a vida é uma peça pregada cujo maior mistério é o nada.

SANT’ANNA, S. Um conto abstrato. In: O voo da madrugada. São Paulo: Cia. das Letras, 2003.

Utilizando o recurso da metalinguagem, o narrador busca definir o gênero conto pelo procedimento estético que estabelece uma

  1. confluência de cores, destacando a importância do espaço.
  2. composição de sons, valorizando a construção musical do texto.
  3. percepção de sombras, endossando o caráter obscuro da escrita.
  4. cadeia de imagens, enfatizando a ideia de sobreposição de sentidos.
  5. hierarquia de palavras, fortalecendo o valor unívoco dos significados.

Gabarito da questão

Opção D

Questões correspondentes

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Comentário da questão

Como define o enunciado, o texto busca explicar e definir o que é um conto através dele próprio, sendo um recurso de metalinguagem. Assim, a cadeia de imagens gerada através da descrição de cada “fazer do texto” proporciona uma visão poética sobre o procedimento. (metalinguagem, poesia, interpretação)

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