São Paulo, 10 de janeiro de 1979.
Exmo. Sr. Presidente Ernesto Geisel.
Considerando as instruções dadas por V. S. de que sejam negados os passaportes aos senhores Francisco Julião, Miguel Arraes, Leonel Brizola, Luis Prestes, Paulo Schilling, Gregório Bezerra, Márcio Moreira Alves
e Paulo Freire. Considerando que, desde que nasci, me identifico plenamente com a pele, a cor dos cabelos, a cultura, o sorriso, as aspirações, a história e o sangue destes oito senhores. Considerando tudo isto, por imperativo de minha
consciência, venho por meio desta devolver o passaporte que, negado a eles, me foi concedido pelos órgãos competentes de seu governo.
Carta do cartunista Henrique de Souza Fiiho, conhecido como Henfíi. In: HENFIL. Cartas da mãe. Rio de Janeiro: Codecri, 1981 (adaptado).
A carta de Henfill a Geisel demonstra que o processo de distensão política durante a ditadura militar teve seus limites. Isso é percebido por meio da negação de passaportes para militantes e políticos de esquerda, como Leonel Brizola. Este é um exemplo do processo de “sístole e diástole” do governo Geisel. Abertura (diástole) lenta, mas com momentos de repressão (sístole).