Papos
— Me disseram…
— Disseram-me.
— Hein?
— O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
— Eu falo como quero. E te digo mais… Ou é “digo-te”?
— O quê?
— Digo-te que você…
— O “te” e o “você” não combinam.
— Lhe digo?
— Também não. O que você ia me dizer?
— Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. […]
— Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu…
— O quê?
— O mato.
— Que mato?
— Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem? Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
— Se você prefere falar errado…
— Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?
VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (adaptado).
O texto de Luis Fernando Veríssimo apresenta uma crítica em relação à exigência da norma-padrão da Língua Portuguesa, uma vez que um dos interlocutores exige uma linguagem que não se aplica ao contexto de uso (informalidade entre pessoas próximas). Por esse motivo, nota-se a inadequação em relação ao contexto em que a conversa se dá.