No cemitério, a sociedade religiosa encarregada do funeral, aterrorizada, apressou a cerimônia de tal forma que a mãe de Herzog perdeu o momento em que o caixão do filho começou a ser coberto pela terra. Quatro jornalistas que estavam presos no DOI chegaram para assistir ao sepultamento. Um se afastara, chorando. Dizia: Eles matam, eles matam! Não pergunte nada. Não podemos dizer nada. Eles matam mesmo. Falava-se baixo. Ouviram-se dois curtos discursos. O primeiro, da atriz Ruth Escobar: Até quando vamos suportar tanta violência? Até quando vamos continuar enterrando nossos mortos em silêncio? No segundo, Audálio Dantas recitou o Navio negreiro, de Castro Alves: Senhor Deus dos desgraçados / Dizei-me Vós, Senhor Deus / Se é mentira, se é verdade, / Tanto horror perante os céus.
GASPARI, E. A ditadura encurralada. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.
Durante o período da Ditadura Militar, os militares no poder criaram mecanismos para institucionalizar a repressão e a perseguição aos opositores do regime, com a criação do DOI-CODI, Destacamentos de Operação Interna (DOI) e aos Centros de Operações e Defesa Interna (CODI), criados para supostamente garantir a segurança interna.