Sermão da Sexagésima
Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.
VIEIRA, A. Sermões Escolhidos, v. 2. São Paulo: Edameris, 1965
“Sermão da Sexagésima” é um texto pertencente ao Barroco conceptista, marcado, não só pelo requinte também por estratégias argumentativas e discursivas sofisticadas. Padre Antônio Vieira precisava passar conceitos por meio de seus textos e precisava prender a atenção de seus interlocutores e a sucessão de interrogações dá conta disso: a progressão textual gradativa marcada por elas desperta a atenção dos ouvintes/leitores.