O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo.
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Segundo Rousseau, “o homem é naturalmente bom, a sociedade é que o corrompe”. Em outras palavras, todos nós somos, em estado de natureza, mais perfeitos e plenos do que somos em sociedade civil e esta deve sua origem à perversão do homem, ocorrida com a propriedade privada. Um detalhe que dificulta um pouco a questão, para quem não conhece Rousseau, é o fato do autor usar de ironia, quando diz: “As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa”.