Questão 25 da prova azul do primeiro dia do Enem 2023

Passado muito tempo, resolvi tentar falar, porque estava sozinha me embrenhando na mesma vereda que Donana costumava entrar. Ainda recordo da palavra que escolhi: arado. Me deleitava vendo meu pai conduzindo o arado velho da fazenda carregado pelo boi, rasgando a terra para depois lançar grãos de arroz em torrões marrons e vermelhos revolvidos. Gostava do som redondo fácil e ruidoso que tinha ao ser enunciado. “Vou trabalhar no arado.” “Vou arar a terra.” “Seria bom ter um arado novo, esse arado tá troncho e velho.” O som que deixou minha boca era uma aberração, uma desordem, como se no lugar do pedaço perdido da língua tivesse um ovo quente. Era um arado torto, deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la infértil, destruída, dilacerada.

 

 

VIEIRA JR.. I. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019.

Com a perda de parte da língua na infância, a narradora tenta voltar a falar. Essa tentativa revela uma experiência que

  1. reflete o olhar do pai sobre as etapas do plantio.
  2. metaforiza a linguagem como ferramenta de lavoura.
  3. explicita, na busca pela palavra, o medo da solidão.
  4. confirma a frustração da narradora com relação à terra.
  5. sugere, na ausência da linguagem, a estagnação do tempo.

Gabarito da questão

Opção B

Questões correspondentes

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Assunto

linguagens

Comentário da questão

A narradora apresenta uma reflexão sobre o arado a partir da perspectiva afetiva ao lembrar de seu pai. Ela passa a utilizar vocábulos relacionados à lavoura de modo figurado, uma vez que passam a se referir à perda de parte de sua língua na infância. 

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