Durante a Revolução Francesa, um certo padre Niollant escondeu-se no pequeno castelo de L’Escarbas. Pagou amplamente a hospitalidade do velho fidalgo ocupando-se da educação de sua filha, Anaïs. A presença da mãe em nada modificou essa educação masculina dada a uma jovem criatura já muito inclinada à independência em virtude da vida no campo. O padre transmitiu à aluna sua intrepidez de opiniões e sua facilidade de julgamento, sem pensar que essas qualidades, tão necessárias num homem, se tornam defeitos numa mulher destinada aos humildes afazeres de mãe de família. Embora o padre recomendasse continuamente à aluna ser tanto mais graciosa e modesta quanto seu saber era mais extenso, a senhorita de Nègrepelisse ficou com excelente opinião de si mesma.
BALZAC. H. Ilusões perdidas. São Paulo: Penguin Classics:
Cia. das Letras, 2011 (adaptado).
Segundo o texto, apesar de ser educada por um homem religioso, a mulher em questão apresentava posturas críticas que rompiam com os padrões da época, mas ainda assim, a influência do cenário revolucionário e iluminista possibilitava a quebra dos padrões institucionalizados.