Questão 21 da prova rosa do primeiro dia do Enem 2023
Enquanto estivemos entretidos com os urubus outras coisas andaram acontecendo na cidade. A Companhia baixou novas proibições, umas inteiramente bobocas, só pelo prazer de proibir (ninguém podia cuspir pra cima, nem carregar água em jacá, nem tapar o sol com peneira, como se todo mundo estivesse abusando dessas esquisitices); mas outras bem irritantes, como a de pular muro pra cortar caminho, tática que quase todo mundo que não sofria de reumatismo vinha adotando ultimamente, principalmente os meninos. E não confiando na proibição só, nem na força dos castigos, que eram rigorosos, a Companhia ainda mandou fincar cacos de garrafa nos muros. Achei isso um exagero, e comentei o assunto com mamãe. Meu pai ouviu lá do quarto e veio explicar. Disse que em épocas normais bastava uma coisa ou outra; mas agora a Companhia não podia admitir nenhuma brecha em suas ordens; se alguém desobedecesse à proibição podia se cortar nos cacos; se alguém conseguisse pular um muro quebrando era apanhado pela proibição, nhoc – e fez o gesto de quem torce o pescoço de um frango.
VEIGA, J. J. Sombras de reis barbudos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
Sob a perspectiva do menino que narra, os fatos ficcionais oferecem um esboço do momento político vigente na década de 1970, aqui representado pelo
- culto ao medo, infiltrado em situações do cotidiano.
- sentimento de dúvida quanto à veracidade das informações.
- ambiente de sonho, delineado por imagens perturbadoras.
- incentivo ao desenvolvimento econômico com a iniciativa privada.
- espaço urbano marcado por uma política de isolamento das crianças.
Gabarito da questão
Opção A
Assunto
linguagens
O trecho, ao apresentar “o prazer de proibir”, representa uma realidade pautada na opressão e no medo. Isso dialoga com o movimento político vigente na década de 70, pois ilustra a repressão ditatorial do contexto.