Suponha homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se estende sobre todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde a infância, as pernas e o pescoço presos por correntes, de tal sorte que não podem trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois os grilhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira acesa ao longe, numa elevada do terreno, brilha por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao longo do caminho, imagine um pequeno muro, semelhante aos tapumes que os manipuladores de marionetes armam entre eles e o público e sobre os quais exibem seus prestígios.
PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.
O famoso mito da caverna tem como principal objetivo representar imageticamente a Teoria das Ideias de Platão, segundo a qual a realidade se encontra dividida em dois planos: o mundo sensível, âmbito das coisas concretas e mutáveis, e o mundo inteligível, âmbito das Ideias eternas e perfeitas. Tal como o prisioneiro sai da caverna em direção à luz, o homem, para Platão, deveria se libertar do domínio dos sentidos e alcançar a verdade por meio do exercício de sua alma racional.