Ora, sempre que surge uma nova técnica, ela quer demonstrar que revogará as regras e coerções que presidiram o nascimento de todas as outras invenções do passado. Ela se pretende orgulhosa e única. Como se a nova técnica carreasse com ela, automaticamente, para seus novos usuários, uma propensão natural a fazer economia de qualquer aprendizagem. Como se ela se preparasse para varrer tudo que a precedeu, ao mesmo tempo transformando em analfabetos todos os que ousassem repeli-la.
Fui testemunha dessa mudança ao longo de toda a minha vida. Ao passo que, na realidade, é o contrário que acontece. Cada nova técnica exige uma longa iniciação numa nova linguagem, ainda mais longa na medida em que nosso espírito é formatado pela utilização das linguagens que precederam o nascimento da recém-chegada.
ECO, U.; CARRIÈRE, J.-C. Não contem com o fim do livro. Rio de Janeiro: Record, 2010 (adaptado).
O texto afirma que, apesar de o surgimento de novas técnicas possam fazer parecer com que as outras ficaram obsoletas, em verdade, “cada nova técnica exige uma longa iniciação numa nova linguagem”.