10 de maio
Fui na delegacia e falei com o tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimação. […] O tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidade de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disto, porque não faz
um relatorio e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.
… O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora.
Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças.
JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada.
São Paulo: Ática, 2014.
A autora Carolina Maria de Jesus, ao receber uma intimação pelo filho, apresenta questionamentos direcionados ao tenente carregados de um teor irônico: “se ele sabe disto, porque não faz um relatório e envia para os políticos? O senhor Jânio Quadros, o Kubitschek e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira.”.