TEXTO I
Alegria, alegria
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta noticia
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não?
VELOSO, C. Alegria, alegria. Rio de Janeiro: Polygram, 1990 (fragmento)
ТЕХТО II
Anjos tronchos
Uns anjos tronchos do Vale do Silício
Desses que vivem no escuro em plena luz
Disseram vai ser virtuoso no vício
Das telas dos azuis mais do que azuis
Agora a minha história é um denso algoritmo
Que vende venda a vendedores reais
Neurônios meus ganharam novo outro ritmo
E mais, e mais, e mais, e mais, e mais
VELOSO, C. Meu coco. Rio de Janeiro: Sony, 2021 (fragmento)
A questão aproxima duas canções compostas por Caetano Veloso em momentos históricos diferentes: “Alegria, alegria”, da década de 1960, e “Anjos tronchos”, lançada em 2021. A primeira canção faz menção ao jornal “O Sol”, que circulou no Rio de Janeiro entre os anos de 1967 e 1968, e às “bancas de revista” nas quais ficavam expostos jornais e revistas. Devido à grande quantidade de informação disponível, o eu lírico da canção se pergunta “Quem lê tanta notícia?”. A canção “Anjos tronchos”, por sua vez, faz referência ao contexto da internet, cujo ritmo de circulação de informações igualmente gera impactos no eu lírico (“Neurônios meus ganharam novo outro ritmo”). Ainda que remetam a tecnologias diferentes – respectivas à sua época -, as duas letras têm em comum a percepção da profusão de informações geradas pela tecnologia.