Fogo frio
O Poeta
A névoa que sobe
dos campos, das grotas, do fundo dos vales,
é o hálito quente da terra friorenta.
O Lavrador
Engana-se, amigo.
Aquilo é fumaça que sai da geada.
O Poeta
Fumaça, que eu saiba,
somente de chama e brasa é que sai!
O Lavrador
E, acaso, a geada não é
fogo branco caído do céu,
tostando tudinho, crestando tudinho, queimando tudinho,
sem pena, sem dó?
FORNARI, E. Trem da serra. Porto Alegre: Acadêmica, 1987.
No poema, o discurso do lavrador renova a linguagem poética, como pode ser evidenciada no trecho “fogo branco caído do céu”, promovendo uma nova caracterização da geada. O embate de ideias se confirma pela noção do poema sobre a geada, definindo-a como “hálito quente da terra friorenta”.